segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Murmúrio

É tarde. Irei dormir daqui a pouco.
Antes , as palavras surgem do nada e vão invadindo o silêncio que entretanto se foi criando.
Estou calmo!
Ouço agora , ao longe , um murmúrio , talvez imaginário , talvez real , não importa .

Recordo R. Não sei bem porquê , recordo - a. Recordo a sua juventude , o seu sorriso , a sua pele lisa e a forma alegre como costuma dançar. Recordo principalmente a sua juventude.
Partiu por este dias. Não a verei por um bom espaço de tempo.

Relembro ainda as ondas brancas do mar.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Nostalgia

Acordei tarde . Não senti ninguém. Talvez tivessem saído !
Fiquei um pouco mais no quarto , ainda baralhado por um sonho que tivera e que tentava recordar mas que se esfumava à medida que a consciência ia tomando o seu lugar.
Não me lembro das horas.Talvez não fosse muito tarde . Uma espécie de vazio fez - me sentir o unico habitante do planeta. Estranho! Tenho saudade desse momento apesar de me ter perturbado. Já não me lembrava dos meus sonhos há já bastante tempo e por isso lamento não ter conseguido perceber que mensagem o meu inconsciente me quereria transmitir. A falta de prática foi fatal.

Estou agora um pouco triste por causa disso.

sábado, 29 de dezembro de 2007

Silêncio

Um silêncio de pedra enche - me os pulmões com tanta força que acabo mudo.

Lá fora , na rua , uma carro passa vagarosamente sem ruido entre as arcadas que as copas das arvores formaram ao longo do tempo.

As folhas esvoaçam a uma pequena altura caindo de seguida de novo para o chão húmido que as acolhe e onde ficarão até que o vento as remova.

O céu acinzentou - se agora , entre desejos confusos que me atrapalham os dedos fazendo - os hesitar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Natal

Um retorno , uma revisitação do passado , uma viagem aos locais esquecidos da memória.


Um trajecto com momentos difíceis mas , simultaneamente , retemperador , do corpo e da alma .

Come - se demais , principalmente doces que estão por todo o lado, rabanadas , sonhos , filhoses e companhia limitada , algo ilimitada.

Choveu , em 25 , como uma prenda dada , mas de curta duração. Depois foi o sol que esteve , acompanhado de algum frio , que é da época e , entre as memórias do passado e as palavras do presente , se compõs o presépio familiar .


sábado, 22 de dezembro de 2007

Pré - Balanço ?!

Aproxima - se o fim de mais um ano e parece natural fazer - se um balanço : do que se fez bem ,
do que correu mal , do que poderia ter acontecido e não aconteceu , do que se disse e do que se deixou por dizer , etc. .


Agora , no momento em que escrevo , tenho a ideia que tive mais coisas más que boas , que errei mais do que acertei , que perdi mais do que venci , que , em suma , o lado pior que há em mim venceu a parte boa do meu ser , o que é , convenhamos , uma verdade bastante inconveniente .


O que relato , é da minha esfera muito particular , muito íntima , portanto muito desinteressante para quem porventura me lê mas é a forma que tenho de me ver ao espelho da alma tentando reconhecer as rugas que o tempo sulca no carácter e nos afectos e de perguntar se há ainda lugar para a emenda.



Por muito grande que seja neste momento esse desejo , não posso voltar atrás no tempo e , se isso tem o lado positivo que é o da esperança em que as coisas mudem e mudem para melhor não deixa , o lado negativo , de me fazer sangrar , largamente , por dentro.



Quem não teve , tem ou terá , contrariedades na vida? - pergunto a mim mesmo , zangado , enormemente zangado.


Se tenho saúde e conforto material que chegue , amigos e família que se preocupam comigo , porque sou eu afinal um revoltado ao ponto de quase ser infeliz?!

É na reflexão ponderada sobre a questão que a mim próprio coloco que talvez encontre as respostas e apanhe de novo os caminhos que me levem ao centro de mim , ao essencial de mim e de onde então poderei recomeçar o percurso em direcção ao que almejo.

Se o ano que está agora prestes a findar tem sobre ele - para mim e neste momento - uma nuvem cinzenta , tem igualmente (como o dia de hoje) e talvez mais perto do que julgo , um céu azul de possibilidades de melhoria e uma luz franca de esperança.

Neste ano que agora está perto do seu termo , conheci e reencontrei pessoas fantásticas e maravilhosas; quase todas elas pessoas simples mas de coração grande , algumas delas pessoas felizes , outras , pessoas cujas vidas atravessaram também momentos de angústia e infelicidade mas que , fazendo das fraquezas forças tentaram e permanentemente tentam vencer os problemas e ultrapassar os dias mais difíceis , seguindo em frente , de cabeça levantada e de coração esperançoso .

Com elas aprendi imenso e todas elas , cada uma à sua maneira , me deram lições de vida , ajudando a conhecer - me mais profundamente e contribuindo para a minha tranformação num ser humano melhor , menos egoísta e menos orgulhoso, mais solidário e mais compreensivo .

Por isso , sendo isso um tesouro valiosíssimo , a todas estas pessoas que , mesmo sem o saberem , me ajudaram e me ensinaram tanto ao longo de todo este ano , um enorme e sentido obrigado . A todas elas , mesmo àquelas que nunca lerão estas palavras , uma gratidão sem limites que espero ser capaz de retribuir em todos os dias da minha vida.


Feliz Natal!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Devaneio

Se não te agarrares tanto à vida e se encarares a morte como coisa natural talvez não te atormentes tanto , talvez não te consumas tanto , diz Mestre Eckhart .

Não temas então a morte e recearás menos viver , viverás mais livre e talvez sintas mais a vida a entrar dentro de ti.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

As Palavras

Umas parecem cristais , outras punhais se formam .
Vêm do coração , da razão?...
Umas são livres , outras não.

Com elas amo , rio e choro.
Em vão?!
Não.
Todas me comprometem , todas sou eu.

Pérola , orvalho , lágrima.
Palavras.
Do coração , da razão.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Cansaço

Há um cansaço que o tempo às vezes nos traz e que nos deixa um tanto à deriva , como se náufragos fôssemos ou se ébrios estivéssemos , perdidos ficamos.

Assim é este momento , em que o nada e o tudo se juntam, o sim e o não coexistem , o frio e o quente partilham o meu corpo , a calma e a inquietação perpassam o meu coração , a lucidez e a confusão atravessam o meu espirito.

Imagino o mar com as suas ondas caindo na areia . Imagino os cumes pacificos das serranias em bruma . Imagino o sorriso leve do rosto de uma criança e os traços suaves do teu sorriso desenhado pelo meu desejo.

Nos teus olhos de ontem vejo o dia brilhante de amanhã e ainda ouço o som das tuas palavras bailando na memória dos dias agitados que passam à infinita velocidade do esquecimento.

Minha mãe costumava embalar - me quando era pequeno;
hoje vi desenhados os esboços das histórias que eu não queria nunca deixar de ouvir.
Mas talvez se cumpra mãe !...
Afinal fui eu . Fui eu que pensei ter , por momentos , esquecido .
As tuas histórias vão perdurar , vão ficar dentro de mim como se nunca me tivesses deixado .

Obrigado mamã,
até amanhã.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Isto tem que andar c'os diabos mas para uma telenovela talvez nao...!


Infelizmente o tempo não dá para tudo e esta historinha até que tem a sua piada para além de ser uma forma divertida e engraçada de nos libertarmos das tensões do dia a dia sendo ao mesmo tempo um bom exercicio de oficina de escrita .

Por agora acrescenta-se o que já tinha sido escrito hà já alguns dias e depois logo se vê:



A vida é estranha! Nada acontece por acaso no entanto tudo é fruto do acaso.
Não é na ciência ou na religião, na observação apurada dos factos ou na fé, que se encontra uma cabal justificação para o fenomenal acontecimento que é estar vivo.
Conhece - se o processo próximo que nos leva a vir ao mundo e a nele sobrevivermos mas não há uma explicação integral , suficientemente satisfatória para demonstrar com evidência que determinado ser humano , por exemplo , você ou eu , estejamos por cá , da forma e com a forma e personalidade que temos.
Um mistério, digamos assim. Existir, ser – se gente, ser -se um singular e especialíssimo ser humano é de tal modo um caso fortuito que chega a dar vontade de rir, rir francamente, rir abertamente, rir desbragadamente.
E é preciso agradecer, agradecer diariamente, em todos os momentos, sincera e respeitosamente, ao caos generoso que aqui nos trouxe, cabendo – nos a de igual modo, verdadeiramente, a obrigação de fazer o melhor por nós e pelos que nos são próximos, também por aqueles que de nós estão mais afastados mas que são como nós e ainda pelos que não são exactamente como nós mas que, estando perto ou longe, connosco partilham este mesmo planeta, lugar onde todos vivemos, afinal a nossa grande casa e que por isso merece, também ele, uma especial e, por motivos menos positivos, infelizmente, cada vez maior atenção.

Rodou a chave, empurrou a porta e entrou na cabana deixando cair, logo junto à entrada, o pequeno saco com alguma roupa e objectos de higiene pessoal que com ele anda sempre no carro, digamos que para qualquer emergência, e pendurou, no cabide fixado na parede do lado direito, o casaco que trazia vestido. Pousou, de seguida, as chaves do carro na elegante e querida mesinha de madeira, de um só pé, situada um pouco mais à frente no corredor, do outro lado, e avançou até à ao amplo mas não muito grande espaço onde ficam a sala e a cozinha da casa.
No entanto , antes , deteve - se por uns breves instantes, que lhe pareceram durar uma eternidade, a olhar contemplativamente aquela mesa tão especial e singular comprada , hà já muitos anos , num dia de frio intenso mas de grande e quente alegria , numa feira de velharias da Covilhã onde costumavam ir , mesa na qual Rafael e Rita, tinham dispendido umas boas horas de dedicado mas prazenteiro trabalho de restauração. Não sei se essa é a razão que justifica que ambos gostem tanto dela mas a verdade é que têm por aquele objecto, de pequeno valor material, uma tal afeição e uma tão grande ternura que lhe atribuem um enorme valor sentimental fazendo dele, porventura, um dos objectos mais valiosos que possuem.

Até já!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Passado , Presente e Futuro.

Sinto - me um jovem adolescente cheio de energia e vontade de viver e descobrir.
É um sentimento meio tolo para um adulto da minha idade mas a verdade é que me sinto assim , prenhe de vida , carregado de vontade de mudar o estado de coisas , capaz de , sózinho , mudar o mundo. É uma tonteria , eu sei , mas ao mesmo tempo é uma sensação tão compensatória e agradável que , se puder , não mudo de estado de onda.

Reconheço que , por fraqueza , me afastei de mim , que atirei para o lado (mas não para longe) sonhos que outrora tive , que não fiz o que devia ter feito em inúmeras circunstâncias da vida , que calei as palavras que a alma pedia para serem ditas , que não chorei as lágrimas que o coração reclamava , que não confortei o amigo quando ele precisou , que , oh! meu Deus , o que eu não fiz e tinha que ter feito! o que não disse e tinha que ter dito! e agora , agora , o meu corpo estremece e quase quer explodir , agora , agora a minha alma se inquieta aflita por saber que o tempo não voltará atrás , que nada mais poderei recuperar.

É o passado. Ao passado não poderemos voltar a não ser no carrinho da memória. O passado trouxe - me aqui , a este agora , a este hoje em que escrevo e respiro .Essa é uma herança que não enjeitarei. Esse é o meu capital de partida para o negócio que é o meu futuro , para esta grande empresa que será a minha vida de amanhã.

Há por isso no ar um perfume a vida nova . Espalha - se ao redor um aroma em que se sente alegria , riso e partilha.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Jasmim



Frio!...

Vã procura. Uma lágrima no coração.

Na lembrança do teu sorriso , desenha - se o meu.

domingo, 25 de novembro de 2007

Sentidos

Fecho os olhos e faço uma respiração mais profunda que me ajuda a unir o tempo : aproximo o passado do presente e entreabro a porta ao futuro.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A avançar está mas para onde...?

Desde muito novo que era na solidão que buscava as primeiras respostas às suas angústias. Era uma questão de carácter, um traço da sua personalidade. Em face de uma crise maior ou num momento de grande confusão mental e emocional, a primeira reacção que por norma tinha, era o isolamento, era o afastamento das outras pessoas. A ida para o silêncio introspectivo, habitualmente feito em locais sossegados, longe de todos, nem sempre resultava, é certo, mas estava de tal maneira inscrita no seu código genético que, digamos assim, constituía uma resposta instintiva, uma forma de defesa natural que o seu organismo usava, mais forte portanto que a sua racionalidade.
Rafael, no entanto, ao longo da vida, sempre tentara contrariar esta natural tendência para o isolamento e logo no colégio, em Aveiro, a sua cidade natal, participou activamente em actividades colectivas, tendo feito parte do dinâmico grupo de teatro que então existia, bem como fora membro destacado da equipa de atletismo da escola. Na “Centelha”, assim se chamava o Grupo de Artes Performativas e Cénicas que existia no colégio, viria a aprofundar e solidificar a relação com Rita, sua futura mulher e viria a encontrar e conhecer Jorge e Mónica, namorados então e seus amigos ainda hoje, quase trinta anos depois. Foram tempos extraordinariamente felizes para todos. Os quatro formavam um grupo de tal maneira inseparável e unido que chegavam ao ponto de ter ao mesmo tempo as mesmas doenças e as mesmas angústias púberes, o que intrigava deveras os seus progenitores, que não sabiam muito bem se não se trataria de um brincadeira ensaiada, possivelmente aprimorada pela prática levada muito a peito do teatro que faziam e por isso tinham sempre imensas dúvidas se os deveriam ou não levar a sério. Mas eles eram de tal modo convincentes naquela partilha que não deixavam alternativa aos pais. Se um dizia que tinha uma gripe, já se sabia que haveria mais três engripados e então, nestas alturas, alternadamente, ficavam todos em casa de cada um deles, o que fez apertar ainda mais a já estreita relação existente. Para além destes episódios, quase tudo o que faziam era em conjunto e na escola eram mesmo conhecidos pelo bando dos quatro numa alusão jocosa aos líderes chineses corridos do poder depois da morte de Mao.
Nascida nessa altura e alimentada ao longo do tempo, perdura ainda hoje uma especial e oxigenada relação de amizade com Jorge, seu grande amigo, confidente e cúmplice e, também estabelecida nessa altura, vem até hoje uma ligação insubstituível e singular a Mónica, mulher de uma sensibilidade fora do comum e de um anormal jeito para o desenho mas de um feitio peculiar e um tanto irascível que viria mais tarde a tornar – se pintora e, dando continuidade ao seu gosto e aptidão ao teatro, encenadora.
Jorge e Mónica namoraram durante muito tempo mas tiveram quase sempre uma conflituosa relação de amor que acabou, uns anos mais tarde, numa perturbante relação de ódio, cujas labaredas, hoje extintas, deixaram marcas, porventura inextinguíveis, em muitas outras pessoas para além deles os dois.

Já na estrada, a caminho do seu refúgio, seu porque talvez fosse muito mais dele do que dos dois, era por esta época da sua vida que os seus atormentados e voláteis pensamentos maioritariamente se situavam, saltando entre o passado e o presente a uma velocidade inimaginável, criando uma espécie de nevoeiro dentro da sua cabeça que lhe afectava os sentidos, principalmente o da visão , quase o incapacitando de conduzir convenientemente , isto é , sem pôr em perigo , a sua vida e a dos outros .
Deixara de fumar há já uns bons anos e, estranhamente, procurou no porta-luvas um maço de cigarros que sabia não poder existir. O carro ia vencendo a distância, mecanicamente, como se estivesse a ser pilotado automaticamente e a paisagem entrava, algo indiferente, pelo pára-brisas.
Subitamente o telemóvel começa a tocar! Ao princípio, tão absorto estava, que mal deu conta. O toque durou uns duradouros segundos até que ele se desse nota mas finalmente decide atender:

- Estou sim. - responde em voz apagada.


A palavra à STAR

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Sem título

Uma folha em branco. Hoje em dia um ecrã em branco. Eu estou em frente ao ecrã , à folha, quasse como se estivesse em frente a uma mulher acabada de despir, agora nua. Ela está à minha frente , nua , tal qual deus a pôs no mundo. Observo -a , sinto à distância a sua respiração e fico sem saber o que fazer.
Uma folha em branco. Despida como uma mulher antes do amor.
Caiem pétalas na rua , longe .
A mulher despida , nua.

domingo, 18 de novembro de 2007

Pequenos azares








Foi tangencial, digamos assim; um capricho do destino, poderei igualmente pensar. A verdade é que foi por inexplicáveis instantes que não me cruzei com ela, por quem tão ansiosamente procurava, por quem tão ansiosamente tenho procurado nestes últimos dias.

Eu, de um lado da rua e ela do outro, em apressado passo em direcção ao multibanco, caminhando pendurada no telemóvel, muito determinada e decidida. À porta do banco, um pequeno momento de equilíbrio, telemóvel no pescoço, entre a cabeça inclinada para a direita e o ombro desse mesmo lado enquanto que as mãos, agora livres, procuraram o cartão de débito, que lhe permitiu então entrar no banco logo que o passou na ranhura da porta e assim, assim desapareceu da minha vista, assim se esfumaram os meus sonhos e ali fiquei especado, preso ao chão, como um pateta a olhar o vazio que logo se abriu à minha frente.

Mistério


Fecho os olhos e trago até mim a imagem do firmamento repleto de estrelas e quero sentir a emoção infantil de primeira vez.


Está um frio cortante e pouco tempo me retenho a observar o céu porque o desconforto venceu a beleza.


Entro no carro e faço - me à estrada.


Lembro - me do mar e das ondas com a sua espuma branca nos dias amenos de Primavera, dos dias quentes de Verão , das brincadeiras inocentes da meninice , da bola a correr leve e sem malícia pela areia ainda limpa da praia;dos sonhos de outrora, que se esfumaram , mas talvez ainda pairem no ar e tenham ido para junto das estrelas , lá no cimo. Sou por instantes um menino feliz a contemplar as estrelas : e como o céu está hoje cheio delas , brilhando , cintilando numa beatitude tranquila.

sábado, 17 de novembro de 2007

Olha que linda brincadeira ...!

Desde aproximadamente as onze horas da manhã que o tempo se tinha alterado e o que parecia ir ser mais um límpido dia de sol estava agora a transformar – se numa cinzenta e um tanto ameaçadora tarde de chuva. O céu tinha ficado carregado de umas nuvens estranhas, que o fizeram lembrar – se de Cabo Verde, onde sempre parece que vai chover mas onde raramente chove e, tal como lá, a atmosfera transmitiu – lhe uma impressão de mistério que veio acompanhada de uma certa opressão sobre os sentidos, propiciadora de pressentimentos ruins. Contudo, não estava frio. Estava até uma temperatura amena para aquele tardio Setembro. Subitamente, uma forte rajada de vento varreu por completo o parque, fazendo desaparecer, tão abruptamente como tinham aparecido, as recordações do passado que em segundos lhe tinham vindo à memória e, num instante, voltou ao presente.
Quase com a mesma rapidez, num fugaz movimento, o casal terminou a despedida, afastando – se um do outro em direcções opostas, como se o vento os tivesse avisado de um qualquer perigo iminente. Rafael apenas conseguiu ver a sua mulher a entrar no carro, estacionado poucos metros à frente do local onde os dois se tinham acabado de beijar mas não conseguiu fixar a fisionomia do homem que a acabara de deixar, dado que ele saiu na direcção contrária, encoberto pelos automóveis que nessa área se encontravam em maior número.


Toma lá a bola.... Beijocas

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Uma brincadeira?

Respondendo a um repto lançado pela minha amiga Star aqui vai uma acha:

Tinham sido dias, semanas, pensando bem, meses de trabalho muito intenso, mais intenso ainda do que por norma já era, por isso andava cansado e a sua mente demasiado absorvida com os problemas do dia a dia e com a planificação da sua complicada agenda.
A clínica tinha-se expandido, porventura mais do que alguma vez imaginara e, simultaneamente, as solicitações dos seus colegas de outros hospitais surgiam a um ritmo vertiginoso, que não era capaz de controlar e às quais tinha uma grande dificuldade em dizer não, por razões várias, mas principalmente porque sabia que uma vida humana poderia depender da sua disponibilidade. Essa obrigação, digamos assim, em muitas ocasiões, demasiadas ocasiões, fazia com que ficassem em segundo plano outros compromissos da sua vida, como se a sua missão neste mundo fosse a sua entrega plena e completa à profissão que um dia escolhera.

Foi muito cedo que descobriu a vocação. Logo nos primeiros anos de escola, quando os outros meninos andavam mais preocupados com o futebol e com os jogos da playstation , ele já se imaginava de bata branca e de bisturi em riste , qual espada salvadora de demónios e malfeitores , debaixo das fortes luzes da sala de operações , rodeado por assistentes e colegas , em tentativas suadas e cronometradas de trazer de novo para vida , vidas que pareciam querer partir. Não que não lhe interessassem os feitos tornados quase heróicos dos jogadores do seu clube preferido participando com igual entusiasmo nas conversas sobre o tema quando elas surgiam no seu grupo de amigos. Chegava até, muitas vezes ,a casa com as calças rotas nos joelhos depois de uns dribles menos bem conseguidos no campo de recreio da escola.


Que o teu brilho dê agora continuidade.

Um beijo

domingo, 21 de outubro de 2007

Desejo e imaginação


Venho hoje aqui de cabeça quase vazia esperando que a tela em branco ilumine a mente e faça brotar as palavras que procuro.


Volta manso um rumor de paz e ternura e um vento leve que parece trazer o amor levanta - se de leste para oeste varrendo suave a vegetação rasteira.
Da soleira da porta imagino a calmaria que se deve espraiar nos campos de trigo do sul quando o sol se ergue no cimo do azul do céu , no pino do verão .
Uma voz suave espalha - se dentro de mim .
Deixo que se instale e me conduza até à cama onde irei dormir porventura embalado no sonho de um amanhã melhor , lilás , como o sorriso que daqui vejo desenhar - se no teu rosto.
Serás a fantasia que um desejo fabrica , sim , mas como se pode viver sem fantasia , sem imaginar que o oceano não se pode atravessar , sem pensar que o cume da mais alta montanha não se pode atingir?
Avivo , sem me atormentar , a fogueira dos sonhos que sonho acordado , tentando levar daqui um calor na alma e esperança no coração . Talvez isso me ajude a ter um dia melhor , talvez assim se possa ir abrindo a porta da harmonia , da ternura , do amor ?! . Talvez...

sábado, 29 de setembro de 2007

Pensamentos

Subtraídos com respeito aqui :

Há três coisas que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida.

Provérbio chinês



A melhor maneira de nos prepararmos para o futuro é concentrar toda a imaginação e entusiasmo na execução perfeita do trabalho de hoje.

Dale Carnegie

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Angústia

Continuar seguindo mesmo não sabendo em que direcção caminho como se de vez em quando apagasse quase tudo e retornasse ao ponto zero que não é mais zero , que não é mais o começo .Quanto muito é um recomeço , um re-inicio que é preciso levar a cabo tentando reequilibrar , tentando recuperar o que se perdeu , tentando juntar os pedaços que se foram espalhando, que se encontram distribuidos , algo perdidos , na memória e nos sentidos.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Scolari

Quem é que em Portugal não opinou hoje sobre Scolari e a sua atitude?
Neste momento , a televisão pública dedica-lhe a Grande Entrevista para se saber ao pormenor em que escola de pugilismo anda o senhor em questão a ter aulas , porque aquele murro - ou tentativa de murro - é uma verdadeira vergonha. Então andamos a pagar um balúrdio aquele sujeito para que ele apresente um murrinho daqueles? Afinal que pouca vergonha é esta?Como fica a galhardia lusitana , de reputação mundial , após aquela espécie de soco? A nossa antiga e longínqua tradição de povo caceteiro e arruaceiro como fica depois da vergonhosa prestação deste brasileiro que anda a comandar uma selecção de frouxos e pernetas?
Eu voto já para que o homem vá de pressinha aprender muai thai , karaté ou Kick Boxing porque de outro modo não chegamos a lado nehum e o campeonato europeu está já aí à porta.

Abaixo o escolari , portanto ,e , proponho que o João Pinto seja desde já nomeado , no minimo , adjunto da equipe técnica da selecção nacional aconselhando daqui os responsáveis , que nunca irão ler este post , que se deve começar a pensar na contratação de verdadeiro condutores de homens , com técnicas de punhos e pernas eficazes a enfrentar qualquer sérvio , croata , polaco ou outro indigena de uma qualquer outra nacionalidade que nos queira derrotar dentro das quatro linhas onde o futebol , não sei por que raio de ideia , teima em continuar a jogar - se.

domingo, 9 de setembro de 2007

Catarse


Acabado o período de férias , onde a liberdade de acção é quase total , volta o tempo da rotina e dos horários a cumprir.


Não recomeça da melhor forma , esta fase , mas o trabalho há muito que é para mim um penoso sacrifício que tento levar da forma mais leve que me é possível.


Aos 48 anos sinto , com um peso especial , que os passos dados no meu passado adolescente não terão sido os mais acertados mas quanto a isso nada se pode fazer agora.

Sempre que tenho a oportunidade de falar com gente mais nova que começa a sua vida profissional digo - lhes o que a mim não me foi dito e que eu julgo deveria ter sido. Aviso , sem moralismos , que o caminho se faz do princípio , que os passos de hoje têm reflexo no futuro.


É uma espécie de catarse que de alguma forma me alivia sem no entanto emendar seja o que for.


quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Passagem


A vida é uma passagem. É um lugar comum , uma trivialidade.

Para mim , neste momento é a afirmação que tento levar até ao dia de amanhã , lembrá -la em todos os momentos desse dia , permanecer com ela para o dia seguinte e para todos os restantes dias da minha vida como se fosse a bandeira que devo olhar e respeitar sempre , porque não me posso apegar às coisas , aos instantes , aos sorrisos , aos rostos donos desses sorrisos, porque tudo é efémero como o vento que passa , nada permanece mais que o momento que dura.

E esta é uma passagem cheia de surpresas e de acontecimentos que não controlamos. Isto faz da vida a maravilha que é mas não deixa de constituir também uma ameaça porventura angustiante.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Água


Acabo de sair da água mais purificado do que entrei . Fonte de vida e de energia , a água dá - nos o tempo perdido e devolve - nos o ânimo .

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Sorriso azul

Há , entre as rochas , brisas que se cruzam e com elas odores chegam a mim avivando a memória que me transporta até ti , ao teu sorriso , que paira agora no cimo , no recorte que o azul desenha na fraga.

Zambujeira do Mar (3)


Dois cafés afastaram - me o sono e não sei por quanto tempo ouvirei ainda este silêncio de vozes que me cerca.

A vida é também um exercício de paciência . É necessário ser paciente. A sabedoria talvez seja saber aguentar a pressão que o tempo exerce. É preciso coordenar o gesto com o tempo para o fazer. Nem antes nem depois. Para não nos perdermos temos que esperar pelo momento certo. Há uma altura exacta para se efectuar o movimento e o seu contrário: a espera.

Ondulações


O som propagou-se pela planície ampla acabando por desaparecer antes da água , levado pelo vento .

Ainda bem que de novo soprou forte porque com ele foram algumas recordações incómodas e indesejáveis.

Outras , melhores , vieram com ele , fazendo - me acreditar no ser humano , no amor , na reconciliação , na possibilidade da paz.

Talvez o silêncio tenha vindo depois. Há , no entanto , um silêncio que não é amigo , um silêncio que dói por entrar bem fundo dentro de nós.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Pranto

Choro em silêncio.

Sem lágrimas , como se de um deserto se tratasse.

Um vazio , estranhamente cheio de um outro vazio. Ao longe , as vozes amigas dão uma ajuda inestimável. Quero ouvi - las agora , uma vez , outra vez ainda , vezes sem conta até conseguir adormecer.

O meu coração chora manso , mansinho , num silêncio de nuvens brancas em céu azul , no alto , muito acima de mim.

Vento


Soprou um vento que , não sendo agreste , não nos deixou descer até à praia.

O sol apaziguou a solidão e as vozes amigas a inquietação.

Suave choro

Choro!

Não , não choro.

Gostaria de lavar o rosto de lágrimas e estendê - las até ao coração.

Doce tristeza Alentejana

Estou triste. De uma tristeza que este Alentejo pacifica e distende.

Estou só mas hoje não podia ser de outro modo.

Zambujeira do Mar ( 2 )

Um susto , depois transformado numa espécie de suplicio , acompanha - me desde a hora que acordei até ao momento em que tento escrever estas linhas.

Consequência de um delito moral , quiçá inofensivo , patético com certeza , estou agora quase paralisado , receoso quanto à opinião dos outros , duvidoso quanto ao meu carácter.

Nada de mais , tudo de mais.

Pequenos gestos podem ter consequências desastrosas.

Gestos há , tal como palavras , que duram mais que o tempo que levaram a fazer - se ou a dizer - se.
Ficam. Incrustam-se à alma , ao corpo , à pele e ficam. A memória tratará de os refazer , de o(a)s pendurar em partes de nós que tentamos não ver , não encontrar.

Madalena

Avisto - te ao longe , mal consegui distinguir os traços do teu rosto mas percebi um sorriso breve , leve , que me prendeu ao teu olhar.

Páro por instantes que agora recordo como se tivessem durado quase uma eternidade.

Zambujeira do mar (1)

Tento sintetizar , quero sintetizar mas não me sai nada. Apenas o mar , ao fundo , e o barulho das ondas me embalam para outro universo , deixando o meu corpo estirado sobre a toalha enrugada por estes dias de descuido preguiçoso.

Está calor . Há outros corpos deitados ao lado do meu , outros ainda que se movimentam displicentemente junto à água , em desalinho perfeito.

O que está na nossa cabeça não nos deixa mesmo que caminhemos até á estrela mais distante , acabo de ler.

Sandra tem um rosto que me faz lembrar um sapo , um sapo simpático e amoroso , franzindo - se no meio da testa amiúde num gesto de aparente defesa.

É a tua ausência que me lixa - penso.
A falta da tua voz a encher o espaço , é o que me deita por terra - repito para mim mesmo.

Aninho - me bem junto dos lençóis , onde tento dormir , mas apenas o medo , um quase pavor , me deixa estático.

Planície

Atravesso a planície em direcção ao aparente infinito , caminhando ora em passo largo ora em calmo passo, aproveitando então para em redor olhar e observar a deslumbrante paisagem que a natureza , gratuitamente , coloca à disposição de quem para ela quiser reparar.

Penso na vida , na vida que já gastei , penso no que arrisquei , no que não arrisquei , nos medos profundos que me impediram de pronunciar as palavras certas no momento certo e nos outros , naqueles instantes em que a alegria fez com que os meus olhos se marejassem em lágrimas infantis que molharam de seguida a minha alma sequiosa de vida e de desejo, pérolas de um colar único, partilhado por aqueles que estão no coração .

São muitas as vezes que antecipo o instante ultimo que me há - de um dia separar desta existência terrena , mistificando-o ao ponto de ver nele o momento das verdadeiras revelações , da compreensão total do porquê das inquietações passadas , dos desencontros , dos instantes de solidão , do amor e do júbilo , da alegria , da tristeza, da fé , do choro e do riso, da angústia , da descrença , das lutas e guerras , da fome , da desigualdade , da injustiça , da partilha , da justiça , do equilibrio e harmonia , das paisagens sublimes , do silêncio.

Já pensei nesse instante ou instantes como momentos de amor supremo , de ternura genuína , de pureza.

Desejo

Um tempo cinzento , um tanto fora do que se espera do calendário , faz com que me retenha em casa pensando em corpos femininos , na volúpia que propiciam , enquanto os campeonatos mundiais de atletismo decorrem numa Osaka longínqua , próxima pela inevitável televisão .

A minha casa ainda desarrumada está uma espécie de caos que não apetece desfazer prolongando as férias que se aproximam do fim.

C. inunda os meus devaneios desejando-a fortemente ao ponto de estar prestes a cometer uma pequena loucura há muito apetecida. É roliça , cheia , sensual prometendo um mundo de prazeres carnais.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Solidão


A trágica história de Maddie continua a invadir os telejornais colocando-nos entre a indiferença e a exaustão , a impotência e o desgosto.
O tempo vai passando , deixando sobre mim um cansaço porventura amanhã esquecido quando me fizer à estrada rumo ao gozo de umas férias este ano um tanto sem rota certa.


Há pouco , conversas entrecruzadas , tinham como tema os telemóveis , aparelho de culto entre os portugueses , quase mais importante que os orgãos reprodutores , quiça um seu prolongamento.


A vida de solidão é estéril , terei lido algures . Concordo plenamente não obstante passar grande parte do meu tempo só e de muitas vezes retirar dessa quietude uma paz retemperadora.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Pela manhã


Acordo entre a bruma e o silêncio, tirando dos lençóis os pés quentes enquanto o olhar aguarda o teu que se moverá em jeito lento e suave. A manhã está tranquila e aparenta um dia promissor. Será assim?!

Continuas ainda deitada, o corpo espreguiçado pela cama inteira, agora só tua, enquanto vou rondando o espaço procurando perceber se ficarás mais algum tempo ou se sairás, aproximo – me da janela e espreito as cores que o tempo pintou sem pensar em futuro ou passado apenas no momento e deixo o olhar estender – se pelo campo fora, deixo que os sentidos se percam no exacto instante em que abro as portadas exteriores e deixo o ar juvenil da manhã entrar nas nossas vidas.

Viras o rosto em direcção a mim e quase não consigo aguentar a beleza dos teus traços ainda dormentes, ingénuos e puros, mas rolas de novo no sentido oposto e deixas – me ali, especado, a olhar o infinito que é o passado, a memória dos momentos vividos contigo.
Detenho – me uns instantes mais junto da janela que se abre à vida, observando os pássaros em voo sereno e o verde que me inunda de esperança enquanto tu permaneces estendida em preguiça inocente, envolta porventura ainda no que sobra dos sonhos da noite.

- Bom dia! – ergue – se pacifica tua voz que se espalha doce dentro da minha cabeça que quase já partira para outro instante.

- Bom dia – respondo, desenhando um sorriso em todo o quarto – como és bonita …! como ficas ainda mais bonita depois de uma noite de amor!...

terça-feira, 31 de julho de 2007

Abatimento

Um stress , de um lado para o outro , porventura em vão.

Cada dia que passa , a desilusão agrava - se , havendo momentos de um vazio incomodativo.

Parece que o deserto quer conquistar espaço. Talvez seja o cansaço o responsável por este estado de desânimo e por isso , quem sabe , depois das férias o sorriso volte a fazer - me companhia.

Os nossos passos levam - nos sempre a algum lugar. Por isso é tão importante que os saibamos dar. A todos. Podemos pensar: " Ah! , este pequeno desvio não fará mal..." - Pode ser fatal! Pode ser um irrecuperável desperdício de energia.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Instante

Um pássaro sobrevoa o jardim e mais ao longe o som da água a cair da cascata leva o pensamento para ao pé do sonho , um sorriso desenha - se no rosto e , por instantes , sou menino outra vez.

As folhas , nas copas das árvores , agitam - se levemente enquanto o vento as acaricia numa harmonia infantil .

Movimento

Corre uma levissima aragem que varre suave o calor de dentro do corpo.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Criação

Deus criou o Mundo num dia de confusão.
De manhã, quando abriu a janela do quarto o dia parecia florir à sua frente: o céu estava azul , os prados verdejavam de desejo e o sol brilhava com uma pujança esperançosa.
Contudo , mal saiu de casa , as nuvens apareceram . Primeiro brancas mas logo depois cinzentas , ameaçando uma chuva que rápidamente chegaria.
Mas que raio - pensou - ainda agora um promissor futuro e tão cedo desfeito...
Assim mesmo avançou. Continuou a árdua tarefa da construção do homem e do seu mundo. Com dúvidas , é certo , mas prosseguiu.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Luz

A luz branca espalha - se sem vergonha e amplamente pelo espaço que me circunda enchendo a atmosfera de ânimo , mitigando assim alguma tristeza que ficou de ontem e do dia anterior.


Nada como um dia limpo de sol para fazer renascer a esperança.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Melancolia


Olho pela janela a lua distante e duas lágrimas descem do canto do olho molhando-me o rosto de memórias.

Ao fundo , no ribeiro , correm mansas as águas dos sonhos e as sereias dos rios recolhem ao sossego da noite.

Nas árvores , os pássaros preparam - se para dormir , num roçagar de sedas.

Vem o silêncio , inundando a alma , enquanto tu , ó bela , esboças um sorriso que me estremece o coração.

Vem , silêncio, entra por mim .

Vem , alegria , deixa-te ficar ao pé de mim.

Escrever


Escrever , porquê?!
Porquê sair do conforto preguiçoso embora que pouco produtivo e chegar-me aqui ao computador sem saber muito bem o que escrever?!
Esta necessidade de dedilhar sobre o teclado de um computador, agora com a possibilidade de imediatamente ficar visível , é comum a um sem número de pessoas que , pela escrita se encontra , desabafa , ama , imagina , cria , faz humor ...

Assim é comigo.Escrever é uma terapia , uma companhia ; traz para ao pé de mim quem amo , quem estimo ; faz recordar-me dos bons momentos , ameniza os maus momentos.

Depois da noite a manhã


Procuro o teu olhar quando me deito .
Cerram - se as pálpebras entrando o silêncio.

O dia nasce cheio de cor que entra pela janela ampla da sala onde me detenho por instantes , respirando , enchendo os pulmões da frescura da manhã.

O sol espalha -se , elegante , pelo campo .

domingo, 1 de julho de 2007

No palco

A música gravada dá o primeiro sinal de que o espectáculo está prestes a começar e o meu coração ,sem que eu seja capaz de o controlar , começa a bater de forma algo descompassada num misto de contentamento e nervosismo. As luzes ajustam-se e os músicos entram no palco , atravessando-o . de forma discreta e subtil quando , na verdade , a eles cabe uma parte importante e fundametal do que vai acontecer a seguir. Começa então a magia de que tive o privilégio de partilhar em três sessões , todas diferentemente sentidas mas onde , em cada uma delas , o coração se emocionou de forma especial.



Entram as mães com os seus filhos pequenos pelas mãos . pisando a caruma ainda fofa e ordenada que é calcorreada pela primeira vez , porque há sempre uma primeira vez para tudo , experimentando assim que o exterior da mãe pode ser fofo também mas pode igualmente picar. São deixados por instantes a si mesmos e depois , ao chamamento das progenitoras , regressam à segurança do colo materno.

Há trilhos que se abrem , possibilidades de caminho que surgem e aí vamos nós , crianças que fomos um dia , à procura do nosso próprio rumo.

A vida poderá começar! É preciso limpar o palco , tal como a vida que ao principio está em branco , tudo para fazer , tudo para preencher, o espectáculo poderá então ter lugar.

terça-feira, 26 de junho de 2007

No ensaio

A luz incide clara e forte sobre os nossos corpos atrapalhando - me o olhar enquanto a jovem bailarina se deita no palco , em trabalho de ensaio.

Eu ali estou agarrando-lhe as mãos colocando no gesto toda a simplicidade e naturalidade que no momento consegui encontrar .

Gostei da experiência ! Saboreio - a ainda , talvez com o mesmo prazer das crianças que , pela primeira vez , brincam com um brinquedo novo.

Senti - me , por instantes , como se um actor eu fosse.

sábado, 23 de junho de 2007

Despertares

Acontecem sem que perceba muito bem como.

Talvez se entendam se nos detivermos a analisar todos os nossos passos na tentativa de reconstituir o que a memória permite , até ao passado mais longínquo.

Mas , pessoas , acontecimentos , vozes , cheiros , sons , ambientes , provocam o click que em vão e , angustiadamente , quantas vezes , procurávamos.

Há , no que emerge do acaso , uma lógica , um sentido , que remete , ah! , em quantas ocasiões , para um plano inferior aquele que resulta do esforço da razão no que toca ao entendimento das coisas.

A magia da vida estará então em que saibamos aproveitar ,o mais plenamente possível, o que o fortuito e o inesperado , generosamente , põem ao pé de nós.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Desabafo

Diz-me o silêncio que a solidão nem sempre é boa companhia. A solidão é , na maioria das vezes , um longo deserto que se tem que atravessar sem a certeza de que alguma vez se encontre um oásis ; e como custa atravessar o deserto.

domingo, 10 de junho de 2007

Inquietude
















Atravesso a rua deixando atrás de mim o marulho manso do mar e em poucos passos alcanço a porta entrando em casa , onde me instalo , entre uma simplicidade antiga e infantil e um sentimento novo , que me leva a ti , aos teus olhos , à tua voz , ao teu corpo todo .

Parando , interrogo-me , surpreso: O que está acontecer?! Mas que inquietação é esta? ...

Atravesso a rua , ouvindo o mar , sentindo as ondas caindo na areia , incansáveis e belas , espalhando um murmúrio brando mas de fulgor viçoso , sempre novo , que serenamente invade o coração.

Está ainda aqui , agora , embora tu distante , a tua voz , preenchendo este espaço vazio e assim , em silêncio , vieste tu adormecer junto dos meus sonhos.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Ondas



Ouvir-se-á o mar , para além de mim,
como antes de mim já se ouvira,
enrolando-se em branco as ondas para depois na areia adormecerem ,
estendidas.
Voltarão a acordar brancas , meigas ou revoltas ,
e eu terei partido , além ,
enquanto tu ficarás a escutá-las , com os pés na areia húmida , olhando ao longe , o horizonte

terça-feira, 29 de maio de 2007

Melancolia







Correu calmo o dia , entre memórias de um tempo que passou e a miragem de um futuro que não chegará nunca .
Da janela , a paisagem mudava continuamente à medida que o comboio , ágil , galgava o espaço , juntando os lugares .
Lisboa estava já ali e o passado quis por instantes ligar-se ao presente.

Escorreu uma lágrima de raiva e outra de decepção enquanto o passo firme se apressava em direcção ao destino.

O rio depressa se abriu ao mar e os pensamentos vogaram para a linha do horizonte deixando o Bugio na sua solidão de sempre.
De novo o comboio , Cruz Quebrada , Algés, Belém, Alcântara , Santos e o Cais do Sodré ; o tempo cai lento numa cidade apressada , mas é preciso um autocarro rápido para um tempo curto e uma vez mais o comboio.
Lisboa ficará consigo mesma e os seus habitantes .
Duas amigas rindo -se , cúmplices , dos namoros em flôr enquanto a paisagem corre outra vez em sequência cinematográfica.
A resplandecente luz do sol entra pela janela do comboio , sentando - se a a meu lado.

domingo, 27 de maio de 2007

Chuva miúda









Cai , miúda , a chuva .
Um temor acinzenta o coração .
A memória traz-me a luz dos teus olhos e a alegria da tua voz ;
enche –se então o silêncio de melodia e o cinzento de cor .
A chuva miúda embala agora o sonho , renasce a esperança ...
o azul marinho apazigua os sentidos.

domingo, 13 de maio de 2007

Odores


Cai , apressado , o tempo do calendário , embora os pássaros , lá fora , continuem cantando tal como o faziam outrora nos campos da minha infância. Há , no ar , a Primavera de Maio , com os seus odores , sons e cores que entram pela janela aberta da sala da casa , onde o sofá acolhe estas palavras que caiem mornas de um cansaço de afazeres de Sábado. Aqui e ali , no meio do chilrear dos pássaros , um carro atravessa a paisagem dividindo - me entre o urbano e o rural deste lugar , que tento fazer outro e que talvez apenas exista dentro de mim.

Lá fora , no campo , crescem as flores espalhando cor pela vegetação que a Natureza , ou talvez Deus , distribuiu sem matemática ordenação.

Fátima


Houve hoje em Fátima , o culminar de mais uma cíclica peregrinação dos católicos , de muitas partidas do mundo, sempre especial , sempre emotiva , sendo que esta , comemorando os noventa anos das supostas aparições , terá porventura amplificado ainda mais os sentimentos de fé e de devoção daqueles muitos que hoje lá se deslocaram.


Acredite-se ou não , e no que representa , não serão muitos os que ficarão indiferentes ao extraordinário ambiente que se gera naquele local em dias como os de hoje , onde , do meio dos cânticos entoados por milhares de pessoas , terá perpassado, com certeza , um inexplicável e amplo silêncio.


Não estive lá hoje mas já lá me desloquei em outras ocasiões sendo levado , pela força e simbolismo do local, ao recolhimento e reflexão , tendo sido , então , invadido pelo vasto e misterioso silêncio.

Ajuda


" Se tirares do meio de ti toda a opressão,... se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente , a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia" (Is 58, 9-10)

Renovação











"... se o grão de trigo , lançado à terra , não morrer , não dará fruto..."

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Em memória


Abro a porta e deixo que entre o amor, enquanto lá fora , a chuva cai de mansinho molhando a rua , apagando os rastos do dia , os silêncios , as esperas , as vozes que se levantaram e que nos confundiram.
Entre , então, sente-se junto a mim , aqui neste sofá madrepérola normalmente grande de mais para uma pessoa só e que consigo ao pé de mim ficará menos vazio desta solidão que assomou e parece não querer largar. Entre , vá , não faça cerimónia nem tema que eu me tente e me lance a si como leão a presa fácil .
Sente -se um pouco e conversemos sobre o barulho que a chuva faz ao cair no cimento e aproveitemos para lembrar o verde que vimos quando passeávamos pelos campos de ontem. Sente-se, ouça esta música que encontrei no baú da memória e deixe-se ir um pouco enquanto a chuva cai e molha o tempo , molha lentamente as ideias que cruzamos no ar que nos cerca e , quem sabe , fumemos um cigarro de que talvez nos iremos arrepender.Sente-se , vá , por um pouco , enquanto a chuva cai...

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Morrer é preciso

Nós estamos acostumados a ligar a palavra morte apenas à ausência de vida e isso é um erro.
Existem outros tipo de morte e precisamos de morrer todo o dia.
A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação.
Não existe planta sem a morte da semente , não existe embrião sem a morte do óvulo e do esperma , não existe borboleta sem a morte da lagarta , isso é óbvio.
A morte nada mais é que o ponto de partida para o início de algo novo. A fronteira entre o passado e o futuro.
Se queres ser um bom universitário , mata dentro de ti o adolescente aéreo que acha que ainda tem muito tempo pela frente.
Queres ser um bom profissional?
Então mata dentro de ti o universitário descomprometido que acha que a vida se resume a estudar só o suficiente para fazer as provas .
Queres ter um bom relacionamento?
Então mata dentro de ti o jovem inseguro , ciumento , crítico , exigente , imaturo , egoísta , ou o solteiro solto que pensa que pode fazer planos sozinho , sem ter que dividir espaços , projecto e tempo com mais ninguém.
Queres ter boas amizades?
Então mata dentro de ti a pessoa insatisfeita e descomprometida que só pensa em si mesma. Mata a vontade de tentar manipular as pessoas de acordo com a tua conveniência , respeita os teus amigos , colegas de trabalho e vizinhos enfim , todo o processo de evolução exige que matemos o nosso "eu" passado , inferior.
E qual o risco de não agirmos assim?
O risco está em tentarmos ser duas pessoa ao mesmo tempo , perdendo o nosso foco , comprometendo essa produtividade e , por fim , prejudicar o nosso sucesso.
Muitas pessoas não evoluem porque ficam agarradas ao que eram , não se projectam para o que serão ou desejam ser.
Elas querem a nova etapa sem abrir mão da forma como pensavam ou como agiam.
Acabam por se transformar em projectos inacabados , híbridos , adultos infantilizados.
Podemos até agir , às vezes , como meninos , de tal forma a mantermos as virtudes de criança que são também necessárias , como : brincadeira , sorriso fácil , vitalidade , criatividade , tolerância , etc.
Mas , se quisermos ser adultos , devemos necessariamente matar as atitudes infantis , para passarmos a agir como adultos.
Queres ser alguém – líder , profissional , pai ou mãe , cidadão ou cidadã , , amigo ou amiga – melhor e evoluído?
Então , do que precisas é matar em ti , ainda hoje , o " egoísmo " , o " egocentrismo " , para que nasça o ser que tanto desejas ser.
Pensa nisso e morre , mas não esqueças de nascer melhor ainda.
O valor das coisas não está no tempo em que elas duram , mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis , coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.


por Paulo Angelim , arquitecto , in " Mais Luz " , Abril 2007

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Meias palavras



Penso em muita coisa simultaneamente como se de uma cascata jorrassem livres os pensamentos e este espaço mais não fosse um pequeno lago onde se unem em desalinho caótico desenhando desejos e sonhos , exuberância e sensualidade.




Ali , ao fundo , nasce uma flor que a seguir desabrocha e depois outra encostada , amiga , rápidamente um conjunto de alegria e cor.






Estende - me a mão procurando a sintonia que a vida nem sempre dá e assim faço , amigo , digo-lhe que um dia virá o dia , aquele dia , mas sinto que talvez seja apenas o momento e esse sim , será para sempre.








quinta-feira, 29 de março de 2007

Ausência

Ah! como gostava que a tua voz inundasse agora este espaço em branco preenchendo-o de alegria e quente ternura.
Vejo-te à distancia que a ilusão permite mas , assim mesmo, levar-te-ei para dentro dos meus sonhos onde serás a estrela que me guiará pela noite fora até ao dealbar da madrugada ...
Um dia , quem sabe , dir-te-ei ao ouvido , em surdina , o que o coração sente e, se não o disser , saberei eu que o amor existe , eterno , mesmo que efémero.

segunda-feira, 26 de março de 2007

No canto da Europa


País pequeno!...
Geográfica , cultural e espiritualmente falando ...
Afirmamos , reafirmamos e a toda a hora constatamos , com a plena consciência de que , como as pessoas , não há países perfeitos. Depois , também todos o sabemos , é muito mais fácil o bota abaixo , que o bota acima. É mais fácil ser – se negativo que positivo . É mais fácil criticar que emendar.
País pequeno!...
Reafirmamos...
Dívidas fiscais de "largos milhões de euros" em risco de prescrever -
in "Público " , 26/3/2007.


Bizarra e cómica esta situação. Ao mesmo tempo triste e desanimadora. Reflexo preciso de um país de cretinos e desonestos dado que se houvesse vontade e coragem não se falariam de milhões nem se perderia a conta dos «casos perdidos» na justiça.
Um País que defende e protege os que não cumprem e defende em pé de igualdade com os que cumprem os que levantam questiúnculas sem a menor dignidade jurídica merece ele próprio ir para a sarjeta deixando ir à frente os politicos e todos os outros , os muitos outros , que têm culpas no cartório. Já nem vale a pena dizer isto e aquilo de um povo que não se sabe organizar - ou que não se quer organizar - estando sempre a culpá-los , aos Outros , entidade abstracta e inexistente , conveniente à letargia da moral em que as pessoas , deste canto do planeta , na sua grande maioria , vivem .
A minha vontade , enquanto impotente cidadão , é de disparatar , de lançar as piores invectivas , em público e em privado , ou de passar mesmo à agressão fisica , contra os cretinos que detêm o(s) podere(s), por forma a fazer-lhes ver que , se se quiser pode atenuar-se , substancialmente , a roubalheira e a injustiça que se verificam em toda esta questão fiscal, para apenas deste assunto se falar.
País que fomenta a imoralidade e a desonestidade , que desculpa os cretinos e os ladrões , que apoia e elege demagogos e mentirosos não se pode queixar seja do que fôr. Tem é que agradecer a Deus pelo facto de ter tirado aos seus cidadãos a coragem evitando assim possíveis banhos de sangue oriundos da justiça popular.
Bem haja.

domingo, 18 de março de 2007

Mini maratona


Jornada prazerosa e feliz.
Cansativa também , mas de um cansaço bom , tonificador , revitalizador e de que se fica logo com saudade. A repetir!.


Lisboa esteve hoje linda! Lisboa é linda mas quando inundada daquela luz especial , que não se deve repetir em muitos mais lugares do planeta , fica ainda maior , mais glamorosa e grandiosa , mais brilhante e clara. A cidade branca , como alguém um dia a apelidou .


Trinta e seis mil pessoas , de acordo com os números oficiais , invadiram e encheram o tabuleiro da ponte 25 de Abril numa jornada de alegria e esforço saboroso e saudável.
Foi um prazer que fez esquecer algum cansaço , que a certa altura tocou as nossas pernas , e as fez chegar , em calma e pacifica bonomia , aos Jerónimos , hoje ainda mais bonitos e elegantes do que é costume.


Jornada boa e feliz !


A repetir.

sábado, 10 de março de 2007

Os crápulas


Há , neste País , uma admiração , não tão secreta assim , pelos crápulas e desonestos , pelos corruptos e apodrecidos e por toda essa sorte de gente , que faz com que ocupem um lugar de destaque , diametralmente oposto àquele que deveriam ocupar.

Nunca entendi e continuo a não entender.

Depois, a televisão , os jornais , os "media" , de um modo geral , agravam ainda mais este desvio comportamental , de que neste País se padece , pois propagam a todos uma mensagem errónea no que toca aos valores e princípios que nos deveriam reger por forma a que tivéssemos uma vida em sociedade mais saudável e transparente.
Não sei se este contínuo discurso mediático sobre casos de e na Justiça , que todos os dias ouvimos ou lemos , é sintoma de melhoria ou do contrário . Talvez esta forma de os enunciar bem alto e para toda a gente seja umas das formas possíveis para que todo um povo mude de atitude. Não sei. Não sou sociólogo nem psicólogo social...
Sei é que fico chocado , e não serei o único - sendo isso deveras estranho - quando leio , por exemplo , que o sr. Valentim Loureiro – um dos grandes crápulas - quer ser julgado na televisão. É evidente que nestas questões da justiça só se é culpado ou inocente depois do trânsito em julgado , usando a terminologia da área , mas não tenho dúvida nenhuma que o sr. em questão , das duas , uma:
ou deveria estar longe , muito longe , da ribalta política e mediática ou deveria estar bem instalado num dos nossos calabouços .
Em qualquer das hipóteses ficaríamos livres de uma verruga.
Mas não.
Ao contrário.
Ei – lo aí , em destaque , a exigir ser julgado na televisão...
O povo gosta?!...
Delira...! - direi eu - aqui sentado...

quinta-feira, 1 de março de 2007

Entre vidas


Anda –se à volta do mesmo e sempre parece diferente.
Cada um de nós , dia a dia , vai deixando o que guarda de si mesmo , vai mostrando o que o seu coração e o seu pensamento vão produzindo na caldeira lenta onde a vida se queima .
Brilhando por vezes , em silêncio , outras , almejamos com choro e lágrima , riso e festa , por tudo : por vida cheia , por alegria , pela tristeza doce , quando se sente ...
A meu lado , sofre um homem , já idoso, debilitado , quase um moribundo , talvez esperando o fim , o fechar das luzes.
Aqui , agora, escrevo eu , com a vida a correr – me ainda com força nas veias , apertadas hoje pela a angústia da dúvida.
Aclamo a vida ! saboreio o doce cheiro do amor , embora distante , incerto ainda , é certo , mas um amor que emana , que cresce , que se sente e por isso é meu , vivo , nascente , em flor.

Mar calmo
















Bom seja o dia!

Em frente , o azul do mar estende-se hoje mansamente. Imenso , sempre imenso, caindo suave na areia que anseia pelos nossos pés.
O pequeno bote acaba de chegar a terra trazendo consigo homens contentes de peixe.

Daqui observo o mar , hoje calmo , sempre imenso...

A pequena mão aperta a minha e um sorriso silente , de caracóis dourados , enche – me o coração de bonança que se espalha no azul cintilante do mar imenso , hoje calmo.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

O encontro no teatro


Enquanto espera pelo autocarro , acende um cigarro , para ajudar a matar o tempo. Caiem uns inofensivos chuviscos , que se vão adensando , tornando – se mais ameaçadores à medida que o vento , frio e irregular , os vai levando , sem ordem, para cima do seu corpo. Ao seu lado , uma jovem estudante , porventura universitária , de gabardina e com um colorido guarda - chuva , não consegue disfarçar um entediante semblante de quem já ali está há um bom pedaço de tempo , aguardando um antipático bus.
Os seus cabelos , suavemente alourados , esvoaçam sem controlo , coreografando uma espécie de bailado caótico , do género das coreografias de Cage / Cunningham.
É neles que Ricardo fixa a atenção enquanto liberta , levantando a cabeça , umas fumaças do seu cigarro.
Na rua quase deserta , passam uns carros apressados , agressivamente indiferentes às presenças , ali ,daqueles dois corpos desprotegidos , expostos ao frio e a uma chuva que persiste em não ter direcção definida
.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Inês



Parecerá ridículo ou será porventura mesmo ridículo , que nesta era da informação " on - line " e da Internet ainda se escrevam cartas e será definitivamente ridículo se essas cartas forem cartas de Amor. Mas como disse F. Pessoa : " todas as cartas de amor são ridículas... !".
Mas afinal que mal poderá fazer uma simples carta, que num só gesto se amarrota e se atira para o lixo... ? !
Apesar desse risco , não resisto a esta tentação de aqui me sentar e dedilhar estas linhas enquanto penso em ti e te imagino ao pé de mim , enigmática e bela , silenciosa e perturbante , inspiradora de um silêncio apaziguador capaz de me transportar para uma galáxia longínqua.
Imagino - te como te vi pela ultima vez , vestida de preto , com os teus bonitos cabelos pretos , tranquila e misteriosa , caminhando sobre um lago de mel , num entardecer magnífico e extenso.
A Primavera , a sua proximidade , como sabes , transforma a Natureza e transforma – nos apesar dos estranhos tempos que hoje se vivem , há ciclos que se repetem , cheiros e sons que retornam , renovados , emoções que se reacendem , sentimentos que de novo florescem quando pensávamos já terem desaparecido.
Assim é comigo , que á força de uma solidão não convidada , por vezes convidativa , me fui tornando num ser humano menos completo , mais egoísta e fechado , mas apesar disso ainda vulnerável ao pólen do amor , capaz de ser transformado pelos naturais ritmos da natureza.
Inês , de quem quase nada conheço , para lá da perturbante aparência , mas por quem , o meu coração , numa fugaz e efémera noite , foi tocado , atingido pela seta do julgado desaparecido Cúpido.
Que pensarás tu a esta hora , deste escriba que mal conheces , com devaneios de adolescente ?!... Será que vais continuar a ler estas linhas em silêncio ou , rindo , irás comentar com alguém , ao telefone, o despropósito que cometi ?! .... Ou será que, vigorosamente , amarfanharás esta carta e com desdém deita - lá - ás ao lixo ?!...Ou , nada disto em que estou a pensar , acontecerá ?!...

Levanto - me com a lembrança da tua imagem tão presente que quase conseguia trazer - te para o pé de mim e te poderia tocar . Ponho os chinelos , passo na cozinha para me acalentar num pão com fiambre e queijo , bebo uma chávena de leite com café e caminho até á sala onde me sento no sofá de sempre , eleito a poltrona de um rei sem trono.
Está uma magnífica tarde de Fevereiro , dona de um sol resplandecente a que me rendo , como um soldado reconhecendo a vitória do mais poderoso e a quem se submete num instinto de sobrevivência . Acendo um cigarro , estico as pernas , pouso os pés em cima do "puf " , numa atitude habitual e corriqueira e deixo que os pensamentos tomem conta de mim , como se de um náufrago se tratasse. A tua imagem ergue - se entre o fumo do cigarro que expiro , nos céus , entre as nuvens , pairando, linda de morrer com esses magníficos cabelos cor de azeviche, mulher de um ar fatalmente perturbante e de uma aura misteriosa.
Agarro a mão que me estendes , enleio - te de seguida e começamos uma dança sem música , entre os raios de sol , por onde rodopiamos suavemente , numa harmonia espontânea , indizível e sem palavras.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

No café


Aproximou - se , um tanto angustiado , do balcão de vidro do café vazio e , com a voz apertada , pediu , duvidoso , um carioca de limão e um folhado misto , que por ali não costumam ser maus , dependendo isso , mais do seu humor do que do humor do pasteleiro , por estranho que possa parecer.
Pegou , ao de leve , no jornal do dia , que folheou sem convicção e foi lendo as ultimas de um País estranho e duvidoso onde sempre viveu mas de onde e sem dar por isso , muitas vezes se tem afastado.
Sente - se um cobarde !
Um homem que não conseguiu decidir e , quando o fez , não agiu em conformidade.
Está só. Sente que esse deserto que têm sido os seus dias avança agora para dentro da sua alma , destruindo lenta mas vigorosamente os restos de esperança que verdejavam ainda no seu coração. Sente - se perdido ou prestes a perder-se . Tacteia , desgovernadamente , pelo espaço que o circunda procurando onde se agarrar , procurando desesperadamente uma ancora , uma corda de salvação.
Além disso , sente como nunca sentiu , a força da morte a invadir-lhe o território que até aqui fora apenas seu e dos seus sonhos , levando - o a pensar em como tudo é tão passageiro e efémero , em como tudo é rápido , vertiginosamente rápido , mais rápido ainda quando não se sabe aproveitar o tempo que nos é concedido.
Olha a colega de trabalho quase como se não a estivesse a ver e isso acontece-lhe ultimamente , amiúdes vezes. Amargura - se em silêncio com o rumo mais recente que as coisas na sua vida tomaram e interroga-se inevitavelmente sobre os porquês . Talvez saiba a resposta . Não quer é neste momento ouvi-la porque isso iria doer profundamente.

O silêncio


O silêncio inundara - lhe o espaço , tal como agora o branco preenche quase por completo esta tela onde , devagar , as palavras vão avançando na vã esperança de o fazer esquecer essa ausência em que de vez em quando mergulha , como um autista.
A verdade é que já não tem o silêncio que ainda há momentos o inspirara e o fizera erguer - se do sofá solitário onde , tentando descansar , se encontrava sentado e o encaminhara até aqui , ao seu computador que , ao espalhar um incessante ruído semelhante ao de uma pequena turbina , eliminou a possibilidade da audição de qualquer silêncio.
Desde que quebrara os óculos , companheiros de há quase cinco anos , que deixara de ser o mesmo , como se esse pequeníssimo acidente tivesse determinado uma inflexão ao rumo normal do seu quotidiano com consequências sentidas ainda no momento presente.
Apaga o cigarro , esmigalhando - o firmemente contra o cinzeiro de barro vidrado , num gesto curto que se esvanece logo depois .Olha em redor da sala , deparando-se de novo com um silêncio espesso e penetrante que lhe toca bem junto da coluna vertebral , deixando - o suspenso num vazio estranho e aparentemente sem saída. Não obstante , procura retirar do ambiente a inspiração suficiente para o fazer teclar as palavras que lhe permitam exprimir o que sente a atravessar a sua alma um tanto desolada em consequência dos actos que ao longo da sua vida foi tomando . O seu corpo parece querer anunciar uma nova etapa da existência , que não conhece , apenas desconfia , que sabe ir acontecer mas que não pode de momento dizer ou adivinhar como realmente irá ser.
A pré anunciação do desaparecimento final sempre foi matéria que o perturbou e , desde cedo , essa ideia o tem acompanhado , tornando - se por vezes quase como a única amiga , por estranho que isso possa parecer , dos momentos difíceis.

Domingo


Numa tarde de Domingo na expectativa do que nunca iria acontecer , permaneceu no entanto sentado , impávido , na poltrona onde habitualmente se senta , deixando que a musica o fosse invadindo , inesperadamente bela e agradável , tão tranquilizadora e calma , capaz de o reconciliar com o mundo , com os outros e especialmente consigo mesmo. Por ali ficou um tempo sem conta ouvindo o som harmonioso que a rádio lhe proporcionava numa espécie de encantamento infantil , embalado pela musica...