sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Água


Acabo de sair da água mais purificado do que entrei . Fonte de vida e de energia , a água dá - nos o tempo perdido e devolve - nos o ânimo .

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Sorriso azul

Há , entre as rochas , brisas que se cruzam e com elas odores chegam a mim avivando a memória que me transporta até ti , ao teu sorriso , que paira agora no cimo , no recorte que o azul desenha na fraga.

Zambujeira do Mar (3)


Dois cafés afastaram - me o sono e não sei por quanto tempo ouvirei ainda este silêncio de vozes que me cerca.

A vida é também um exercício de paciência . É necessário ser paciente. A sabedoria talvez seja saber aguentar a pressão que o tempo exerce. É preciso coordenar o gesto com o tempo para o fazer. Nem antes nem depois. Para não nos perdermos temos que esperar pelo momento certo. Há uma altura exacta para se efectuar o movimento e o seu contrário: a espera.

Ondulações


O som propagou-se pela planície ampla acabando por desaparecer antes da água , levado pelo vento .

Ainda bem que de novo soprou forte porque com ele foram algumas recordações incómodas e indesejáveis.

Outras , melhores , vieram com ele , fazendo - me acreditar no ser humano , no amor , na reconciliação , na possibilidade da paz.

Talvez o silêncio tenha vindo depois. Há , no entanto , um silêncio que não é amigo , um silêncio que dói por entrar bem fundo dentro de nós.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Pranto

Choro em silêncio.

Sem lágrimas , como se de um deserto se tratasse.

Um vazio , estranhamente cheio de um outro vazio. Ao longe , as vozes amigas dão uma ajuda inestimável. Quero ouvi - las agora , uma vez , outra vez ainda , vezes sem conta até conseguir adormecer.

O meu coração chora manso , mansinho , num silêncio de nuvens brancas em céu azul , no alto , muito acima de mim.

Vento


Soprou um vento que , não sendo agreste , não nos deixou descer até à praia.

O sol apaziguou a solidão e as vozes amigas a inquietação.

Suave choro

Choro!

Não , não choro.

Gostaria de lavar o rosto de lágrimas e estendê - las até ao coração.

Doce tristeza Alentejana

Estou triste. De uma tristeza que este Alentejo pacifica e distende.

Estou só mas hoje não podia ser de outro modo.

Zambujeira do Mar ( 2 )

Um susto , depois transformado numa espécie de suplicio , acompanha - me desde a hora que acordei até ao momento em que tento escrever estas linhas.

Consequência de um delito moral , quiçá inofensivo , patético com certeza , estou agora quase paralisado , receoso quanto à opinião dos outros , duvidoso quanto ao meu carácter.

Nada de mais , tudo de mais.

Pequenos gestos podem ter consequências desastrosas.

Gestos há , tal como palavras , que duram mais que o tempo que levaram a fazer - se ou a dizer - se.
Ficam. Incrustam-se à alma , ao corpo , à pele e ficam. A memória tratará de os refazer , de o(a)s pendurar em partes de nós que tentamos não ver , não encontrar.

Madalena

Avisto - te ao longe , mal consegui distinguir os traços do teu rosto mas percebi um sorriso breve , leve , que me prendeu ao teu olhar.

Páro por instantes que agora recordo como se tivessem durado quase uma eternidade.

Zambujeira do mar (1)

Tento sintetizar , quero sintetizar mas não me sai nada. Apenas o mar , ao fundo , e o barulho das ondas me embalam para outro universo , deixando o meu corpo estirado sobre a toalha enrugada por estes dias de descuido preguiçoso.

Está calor . Há outros corpos deitados ao lado do meu , outros ainda que se movimentam displicentemente junto à água , em desalinho perfeito.

O que está na nossa cabeça não nos deixa mesmo que caminhemos até á estrela mais distante , acabo de ler.

Sandra tem um rosto que me faz lembrar um sapo , um sapo simpático e amoroso , franzindo - se no meio da testa amiúde num gesto de aparente defesa.

É a tua ausência que me lixa - penso.
A falta da tua voz a encher o espaço , é o que me deita por terra - repito para mim mesmo.

Aninho - me bem junto dos lençóis , onde tento dormir , mas apenas o medo , um quase pavor , me deixa estático.

Planície

Atravesso a planície em direcção ao aparente infinito , caminhando ora em passo largo ora em calmo passo, aproveitando então para em redor olhar e observar a deslumbrante paisagem que a natureza , gratuitamente , coloca à disposição de quem para ela quiser reparar.

Penso na vida , na vida que já gastei , penso no que arrisquei , no que não arrisquei , nos medos profundos que me impediram de pronunciar as palavras certas no momento certo e nos outros , naqueles instantes em que a alegria fez com que os meus olhos se marejassem em lágrimas infantis que molharam de seguida a minha alma sequiosa de vida e de desejo, pérolas de um colar único, partilhado por aqueles que estão no coração .

São muitas as vezes que antecipo o instante ultimo que me há - de um dia separar desta existência terrena , mistificando-o ao ponto de ver nele o momento das verdadeiras revelações , da compreensão total do porquê das inquietações passadas , dos desencontros , dos instantes de solidão , do amor e do júbilo , da alegria , da tristeza, da fé , do choro e do riso, da angústia , da descrença , das lutas e guerras , da fome , da desigualdade , da injustiça , da partilha , da justiça , do equilibrio e harmonia , das paisagens sublimes , do silêncio.

Já pensei nesse instante ou instantes como momentos de amor supremo , de ternura genuína , de pureza.

Desejo

Um tempo cinzento , um tanto fora do que se espera do calendário , faz com que me retenha em casa pensando em corpos femininos , na volúpia que propiciam , enquanto os campeonatos mundiais de atletismo decorrem numa Osaka longínqua , próxima pela inevitável televisão .

A minha casa ainda desarrumada está uma espécie de caos que não apetece desfazer prolongando as férias que se aproximam do fim.

C. inunda os meus devaneios desejando-a fortemente ao ponto de estar prestes a cometer uma pequena loucura há muito apetecida. É roliça , cheia , sensual prometendo um mundo de prazeres carnais.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Solidão


A trágica história de Maddie continua a invadir os telejornais colocando-nos entre a indiferença e a exaustão , a impotência e o desgosto.
O tempo vai passando , deixando sobre mim um cansaço porventura amanhã esquecido quando me fizer à estrada rumo ao gozo de umas férias este ano um tanto sem rota certa.


Há pouco , conversas entrecruzadas , tinham como tema os telemóveis , aparelho de culto entre os portugueses , quase mais importante que os orgãos reprodutores , quiça um seu prolongamento.


A vida de solidão é estéril , terei lido algures . Concordo plenamente não obstante passar grande parte do meu tempo só e de muitas vezes retirar dessa quietude uma paz retemperadora.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Pela manhã


Acordo entre a bruma e o silêncio, tirando dos lençóis os pés quentes enquanto o olhar aguarda o teu que se moverá em jeito lento e suave. A manhã está tranquila e aparenta um dia promissor. Será assim?!

Continuas ainda deitada, o corpo espreguiçado pela cama inteira, agora só tua, enquanto vou rondando o espaço procurando perceber se ficarás mais algum tempo ou se sairás, aproximo – me da janela e espreito as cores que o tempo pintou sem pensar em futuro ou passado apenas no momento e deixo o olhar estender – se pelo campo fora, deixo que os sentidos se percam no exacto instante em que abro as portadas exteriores e deixo o ar juvenil da manhã entrar nas nossas vidas.

Viras o rosto em direcção a mim e quase não consigo aguentar a beleza dos teus traços ainda dormentes, ingénuos e puros, mas rolas de novo no sentido oposto e deixas – me ali, especado, a olhar o infinito que é o passado, a memória dos momentos vividos contigo.
Detenho – me uns instantes mais junto da janela que se abre à vida, observando os pássaros em voo sereno e o verde que me inunda de esperança enquanto tu permaneces estendida em preguiça inocente, envolta porventura ainda no que sobra dos sonhos da noite.

- Bom dia! – ergue – se pacifica tua voz que se espalha doce dentro da minha cabeça que quase já partira para outro instante.

- Bom dia – respondo, desenhando um sorriso em todo o quarto – como és bonita …! como ficas ainda mais bonita depois de uma noite de amor!...