quinta-feira, 29 de abril de 2010

Formação em Coimbra

É tarde. Estou cansado. A semana está quase a acabar e é o silêncio que trago dentro de mim.



Catarina é engraçada. É uma mulher menina , leve e suave . Não sou capaz de lhe dar uma idade. Eu próprio , confesso , tenho alturas, em que não sei muito bem que idade tenho. Mas Catarina é jovem ainda , disso não há dúvidas.



Orlando , faz-me lembrar o Cabé. Fala demais mas é cómico , por vezes um pouco inconveniente.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Incúria

Estou fulo. Fulo com o meu País , fulo , principalmente , com aqueles que o têm governado ao longo destas décadas de democracia , para não ir mais longe.

Derrubou-se a ditadura , instaurou - se um regime democrático mas não se soube estabelecer um regime justo e económicamente sustentável . Muito fica a dever - se à ganância , aos interesses mesquinhos , à visão curta e imediatista. E depois , não sabemos planear , perspectivar o futuro. Além disso, somos preguiçosos , preferimos o facilitismo ao trabalho duro . Para piorar tudo , gostamos mais de falar e de opinar do que de fazer . (Temos , porventura , dos melhores palradores que há e para todos os assuntos ). Somos invejosos e pouco unidos . Somos egoístas e convencidos . Somos um País de futebol. Raios partam tanto futebol , porra.

Que merda de situação esta...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Abril

Comemorou-se ontem mais um aniversário do 25 de Abril .

Fui à praia , li um pouco da Eneida , dormitei no sofá da sala e olhei para a televisão quase sem ver fosse o que fosse.

Há 36 anos atrás foi um dia de festa para boa parte dos portugueses.

Eu , que era muito novo , bastante mal informado e vivia num Portugal rural que já não existe , não vivi esse dia em festa por desconhecimento e ignorancia mas , os que se lhe seguiram , foram de um entusiasmo , alegria e expectativa como nunca mais vi neste País que , ano após ano depois , foi perdendo a cor e o brilho.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eu sei lá

Entrou e avançou um pouco pelo hall de entrada . Parou , aguardando que alguém viesse ter consigo.


Olhou em redor , observando os quadros expostos , conseguindo perceber que tinham entre si , uma característica comum: luz e a água .



Em todos eles uma luz expressa , clara e ampla e , em quase todos , água. Num deles, logo à esquerda , para onde primeiro dirigiu o olhar , havia um rio luminoso que sobressaía numa paisagem campestre e que logo chamava a atenção pela forma intensa como a luz se reflectia nas suas águas tranquilas quase deixando passar despercebida a mulher que caminhava junto às margens , com um cesto no braço , como se andasse colhendo fruta.

No outro lado , onde havia uma porta , num outro quadro , era o mar , batendo impetuoso e revolto nos rochedos , que retinha a luz branca de um dia de Agosto , luz que lhe acentuava a rebeldia e a liberdade. De imediato pensou no seu querido Alentejo . Na parede em frente , ao lado da escada que ali nascia , um curioso quadro onde , dentro da piscina , se via de lado uma linda mulher nadando um enérgico mas elegante crawl. Mais uma vez a luz . As curvas do ventre delicado da mulher chamavam a atenção pela forma como a luz nelas incidia , prendendo o olhar , como se ali houvesse um íman . Ao mesmo tempo a imagem , quase fotográfica, transmitia uma grande tranquilidade . Logo ao lado deste , o retrato que mais o impressionou,a lápis ou carvão ,de uma mulher. Traços leves e suaves desenhavam um rosto de onde se soltavam cabelos cor de trigo envolvendo os olhos , tapando até o olho esquerdo , deixando perceber um sorriso breve , tranquilo e amistoso.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Noite tranquila

Choveu há pouco mas já não chove mais. A metereologia prevê ,aliás , para mais logo , um dia cinzento em quase todo o território nacional , o que não me parece mal nem bem , diga - se.

Hoje , quando as nuvens deixaram que o sol se visse a brilhar, fez um calor quente , mais de Verão do que de Primavera se é que essas categorias ainda existem na realidade.

Gosto do silêncio. Faz - me lembrar o deserto mas lembra - me sobretudo as grandes praias de Março ou Abril , sem gente nem rebuliço. Apenas a areia , o mar e normalmente o vento . Areia, mar e vento.Por vezes umas gaivotas procurando alimento. Gosto dos grandes areais vazios, sem gente nem rebuliço,sem atropelos nem pressas. Apenas areia , o mar e vento.Parece haver mais lugar para o sonho e para a esperança.

Gosto de tomar banho nas grandes praias desertas de Março e Abril. Quando o mar deixa!. Ás vezes só dá para me sentar junto à água e ficar observando as ondas e a linha do horizonte , mais ao longe.Por vezes um casario a norte ou a serrania a sul. Doutras vezes , apenas escarpados rochedos que mergulham temerariamente nas águas frias do oceano.

Porquê?

O que venho aqui fazer no final do dia , cansado , é um mistério , até para mim próprio ,mas é um ímpeto superior à minha vontade que me impele a sentar e a dedilhar sobre este teclado preto marcado a branco.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Pocariça

É já um pouco tarde.Talvez meia noite. Depois de ter desligado a televisão um silêncio profundo envolve o espaço onde me encontro.Só a ventoinha do computador e o barulho das teclas premidas por mim quebram a calmaria onde de repente entrei. São a minha companhia.

Acendo um cigarro , apesar de saber que me tira vida.Observo o fumo a dissipar - se lentamente no vazio da sala , desaparecendo . Dou mais uma baforada. Os pulmões não gostam muito deste meu amigo mas agora não é o momento deles , tiveram hoje os seus momentos . Agora é a hora do silêncio e da recordação. Do balanço do dia.

Lembro - me de Ana a quem ainda não respondi. Ana que tem sido uma companhia esporádica mas amiga e com quem gosto de falar , mesmo que seja quase só por sms.

Recordo o dia fantástico de sol que hoje fez , o mar calmo , raro nestas paragens , a belíssima praia , a leitura , a preguiça e a calma , sobretudo a calma.O cafézinho no Quim Manel e as bincadeiras com a Bárbara e o Manel , a gentileza da Mami.

Agora a tranquilidade de uma casa vazia mas que de vez em quando se enche com partes do meu passado num silêncio apenas entrecortado pelo barulho das teclas premidas por mim e da ventoínha deste computador onde escrevo.

domingo, 4 de abril de 2010

Páscoa

Tudo hoje me fez lembrar que a nossa vida não é mais do que uma passagem, um tempo intermédio entre o momento em que nascemos e aquele em que desapareceremos como matéria. Sabemos do início mas desconhecemos o fim.

Como a Páscoa , palavra que , em hebraico , significa passagem .

Se pensarmos que Jesus Cristo faz uma passagem entre a vida e a morte e da morte para a vida pela ressureição , talvez possamos dar à nossa Páscoa o siginificado que tem em hebraico até porque , com o seu sacrificio , leva os que então o seguiam e depois muitos outros , a fazer igualmente a passagem , a passagem para uma religiosidade até então desconhecida .


Particularmente hoje , não sei com rigor, como vai ser o dia de amanhã , como poderei então querer ter a pretensão de saber que tipo de foz terá o rio da minha vida?


Vem esta pequena reflexão a propósito da visita pascal em que hoje participei , nesta aldeia onde me fiz gente e onde tanto da minha vida se encontra.


Foi um permanente reencontro com o passado e, a espaços , a pré visão de algum futuro , mas foi o presente que , com prazer e bonomia se impôs e o que vivi a grande parte do tempo .

Benção da época? não sei, não sei até se mereço qualquer espécie de benção, o que sei , o que senti , foi um bem-estar especial, uma calma interior (não obstante alguma agitação vivida) e que se percebia ser sentida tanbém por aqueles com quem falei e me cruzei.


Um tempo presente sempre atravessado pela memória de outros tempos é certo, porque as palavras , feitas conversas , trazem consigo as lembranças , evocando -se , com emoção e sentimento , aqueles que já não estão , relembrando - se episódios passados , história e estórias arrumadas nas gavetas do tempo .

Tenta- se adivinhar no rosto dos jovens as linhas dos seus progenitores como se se parasse o tempo e se fizesse o filme da nossa vida andar para trás, num exercício de recordação e imaginação.



Há novas casas , famílias novas , muita gente que não conheço , porque perdi uma ou mais gerações , mas mesmo isso , esse grande período de tempo aqui não vivido , em que a vida continuou correndo em permanente criação , não me entristeceu tanto como em outras ocasiões tendo - me trazido até uma prazenteira sensação de comunidade e de família, de partilha e comunhão.