quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

O encontro no teatro


Enquanto espera pelo autocarro , acende um cigarro , para ajudar a matar o tempo. Caiem uns inofensivos chuviscos , que se vão adensando , tornando – se mais ameaçadores à medida que o vento , frio e irregular , os vai levando , sem ordem, para cima do seu corpo. Ao seu lado , uma jovem estudante , porventura universitária , de gabardina e com um colorido guarda - chuva , não consegue disfarçar um entediante semblante de quem já ali está há um bom pedaço de tempo , aguardando um antipático bus.
Os seus cabelos , suavemente alourados , esvoaçam sem controlo , coreografando uma espécie de bailado caótico , do género das coreografias de Cage / Cunningham.
É neles que Ricardo fixa a atenção enquanto liberta , levantando a cabeça , umas fumaças do seu cigarro.
Na rua quase deserta , passam uns carros apressados , agressivamente indiferentes às presenças , ali ,daqueles dois corpos desprotegidos , expostos ao frio e a uma chuva que persiste em não ter direcção definida
.

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