sábado, 15 de maio de 2010

Conversa imaginária III

Podia ter sido feliz , sabes?!

e talvez até pudesse ter -me realizado profissionalmente..., sabes?!

Houve uma época em que essa possibilidade existiu mas eu era ingénuo e irrealista.
Pensava que bastava existir , para que isso acontecesse.

Só mais tarde , muito mais tarde , sabes? , depois de muito sofrimento é que percebi que a vida não funciona assim. É preciso muito mais do que simplesmente existir para que haja a possibilidade de se tocar a felicidade.

Eu sei que isto é um lugar comum, que é a coisa mais natural do mundo , isto é , que é a lógica normal das coisas mas para mim não o foi durante muito tempo , sabes?

Pensava que bastava estar , que fosse suficiente respirar , comer e dormir que tudo aconteceria e que tudo o que eu desejasse se tornaria realidade.

Estúpido, não é? imbecil mesmo , mas mantive esse pensamento durante muito tempo , tempo de mais reconheço hoje. A vida encarregou – se no entanto de me ensinar que nada era como eu julgava que fosse e tive naturalmente que fazer o meu caminho cometendo, porventura tardiamente, erros que não tinha cometido e com eles aprender a crescer. E sei que muito tenho ainda que errar , muito tenho que aprender e receio mesmo que já não haja tempo para muita coisa e que muito fique por viver e por fazer.
Sinto o tempo escorrer , sem piedade e por vezes as forças abandonam-me .

Olhei – a discretamente e tentei decifrar através das feições do seu rosto o que lhe passaria nos pensamentos mas nem sempre era fácil. Atrás da leveza daquelas linhas escondia –se algum mistério que ainda não conseguira desvendar e que , de alguma maneira, me intrigava um pouco. Havia momentos em que a sua testa se franzia de uma forma peculiar perdendo – se com isso o equilíbrio que o seu rosto tinha a maior parte do tempo, e isso causava – me alguma perplexidade e admiração.

A lareira estava acesa. Levantei – me e fui remexer a lenha, acrescentando mais umas achas, tornando o fogo maior e mais quente. Olhei por instantes as labaredas crescentes e voltei ao lugar caminhando pausada e pensativamente.
Ali estava ela encostada do lado esquerdo da boca do fogo, conversando com a sua amiga Catarina, ambas fumando, trocando conversa recente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é... a vida é um contínuo acto de procrastinação, promessas feitas (...a nós próprios) por cumprir, sonhos que se adiam em esperanças que se esfumam nos amanhãs que se vão monotonamente repetindo.

Anónimo disse...

Caro desconhecido(a):

...//...
"Pensava que bastava existir , para que isso acontecesse.
Só mais tarde , muito mais tarde , sabes? , depois de muito sofrimento é que percebi que a vida não funciona assim. É preciso muito mais do que simplesmente existir para que haja a possibilidade de se tocar a felicidade."
...//...
"Pensava que bastava estar , que fosse suficiente respirar , comer e dormir que tudo aconteceria e que tudo o que eu desejasse se tornaria realidade."


GOSTEI... simplesmente.
Continue a escrever assim, mesmo amargurado mas sem complexos, faz bem à nossa alma...
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Solidariedade, saudações,
Procrastinador anónimo