quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Fragmentos do passado (1)

96.04.19


Os povos matam - se entre si por força dos sentimentos pátrios que unem , quase umbilicalmente , os homens ao pedaço de terra onde nasceram e cresceram.
Impressiona! Sempre me impressionou esta tremenda força que faz com que o Território se sobreponha ao sangue e à vida e , por causa dele, o ser humano faça jorrar o sangue que lhe dá a vida pela superfície da terra , regando -a , como se de um tributo se tratasse , terrível e fatal tributo esse...


Desde miúdo que a imagem da guerra mexe profundamente comigo ! Sempre me foi difícil imaginar o dia em que por qualquer razão tivesse que ir para a guerra. Por acaso do destino ou da história este País onde vivo é hoje um País pacífico , integrado numa zona geográfica e política afastada de conflitos bélicos , apesar de ainda não há muito tempo terem soprado ventos de guerra , não tão longínquos assim , mas que felizmente foram afastados pelo bom senso e interesse de uns tantos .

No entanto , este País manteve uma guerra sem sentido , à qual escapei pela minha tenra idade de então, mas cujos reflexos eu ainda vivo , embora que de uma forma muito afastada , sem sangue ou mágoa directamente vivida.

Conflito interminável e desde sempre perdido , mantido por uma ditadura política decrépita e agonizante, onde pereceram muitos inocentes , alguns dos quais da aldeia onde cresci , e onde muitas famílias sofreram , separadas e dilaceradas , por caprichos e cegueiras de alguns imbecis , que mantiveram a cegueira e as costas voltadas à natural evolução dos povos que quiseram subjugar.

Dessa guerra e de outras que a televisão não se coíbe de nos fazer chegar ao conhecimento , veio o meu pavor pelo sangue derramado nos campos de batalha mas , simultaneamente , a profunda admiração por aqueles que , quase sempre não questionados , tiveram ( e têm ) que dar o seu corpo e a sua vida , ao serviço de interesses que os ultrapassam , quantas vezes sordidamente estabelecidos.


Estes homens ( e mulheres ) serão sempre uns heróis que venerarei , que toda a Humanidade venerará.

A guerra é uma incompreensível infâmia , uma enorme violentação do ser humano mas que ele próprio estabelece e quantas vezes fomenta , ora em nome da liberdade subjugada , ora das religiosas ou políticas convicções , ora em nome do sacrossanto Território , que normalmente tem mais força que a própria vida , ora ainda em nome do vil e incontornável poder do dinheiro.

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