sábado, 24 de fevereiro de 2007

No café


Aproximou - se , um tanto angustiado , do balcão de vidro do café vazio e , com a voz apertada , pediu , duvidoso , um carioca de limão e um folhado misto , que por ali não costumam ser maus , dependendo isso , mais do seu humor do que do humor do pasteleiro , por estranho que possa parecer.
Pegou , ao de leve , no jornal do dia , que folheou sem convicção e foi lendo as ultimas de um País estranho e duvidoso onde sempre viveu mas de onde e sem dar por isso , muitas vezes se tem afastado.
Sente - se um cobarde !
Um homem que não conseguiu decidir e , quando o fez , não agiu em conformidade.
Está só. Sente que esse deserto que têm sido os seus dias avança agora para dentro da sua alma , destruindo lenta mas vigorosamente os restos de esperança que verdejavam ainda no seu coração. Sente - se perdido ou prestes a perder-se . Tacteia , desgovernadamente , pelo espaço que o circunda procurando onde se agarrar , procurando desesperadamente uma ancora , uma corda de salvação.
Além disso , sente como nunca sentiu , a força da morte a invadir-lhe o território que até aqui fora apenas seu e dos seus sonhos , levando - o a pensar em como tudo é tão passageiro e efémero , em como tudo é rápido , vertiginosamente rápido , mais rápido ainda quando não se sabe aproveitar o tempo que nos é concedido.
Olha a colega de trabalho quase como se não a estivesse a ver e isso acontece-lhe ultimamente , amiúdes vezes. Amargura - se em silêncio com o rumo mais recente que as coisas na sua vida tomaram e interroga-se inevitavelmente sobre os porquês . Talvez saiba a resposta . Não quer é neste momento ouvi-la porque isso iria doer profundamente.

1 comentário:

STAR disse...

Também eu já me sentei no café, e olhei à minha volta, sem nada ver...
Sem nada sentir, sem nada querer...
Tantas foram as vezes, em que pensei a morte está próxima...
Mas, olhei para a "estrela incandescente", e voltei a sentir...
Voltei a sonhar....